Há 17 anos, quando a fotógrafa Gabriela Benicio desembarcou no Quartier Latin para investigar as emoções na estética barroca, na Sorbonne, o vinho não era um objeto de estudo. Organicamente, porém, a paulistana foi estabelecendo uma relação intelectual com a bebida sagrada e tão presente na arte.
Ali mesmo em Paris, fez uma formação teórica e, na prática, inaugurou uma linha de sommellerie cultural, sob a qual o serviço do vinho trazia história e media vivências sensoriais. O primeiro passo profissional nessa caminhada se deu em 2011, com o Haï Kaï, aclamado restaurante no 11º arrondissement, às margens do canal Saint-Martin. Contudo, após os atentados terroristas de 2015, ela e a chef Amélie Darvas decidiram trilhar um novo rumo. Em Vailhan, vilarejo de pouco mais de 150 habitantes, resgataram o Auberge du Presbytère, uma construção medieval, e fundaram o Äponem – felicidade em pataxó. Muito mais do que um restaurante, enraizaram um projeto de vida.
No extremo sul da França, ou no “Éden do vinho natural”, Gaby maneja sete hortas, propõe uma carta de vinhos vivos e biodinâmicos e aplica um modelo vanguardista de trabalho, sob o qual todos os participantes, dos canteiros à chefia da cozinha, passando pela lava-louças e pela adega, recebem o mesmo salário.
A audácia já recompensada no Michelin com uma estrela e também com a estrela verde (distinção por sua eco-responsabilidade), recebeu agora o prêmio inédito, lançado no último dia 06 de março, para personalidades reconhecidas pela transmissão de conhecimento, pelo serviço e pela sommellerie.
“Gosto de falar das vinhas e de quem as sublima, de oferecer vinhos e sabores atemporais. Ao invés de humilhar com informações organolépticas, suscitar o que vibra”, define poeticamente o seu ofício.