Um dos nomes mais celebrados da nova geração do jazz brasileiro, chamado de “garoto estandarte do jazz” pelo jornal El País, o carioca Jonathan Ferr se apresenta na próxima sexta-feira (03.02), a partir das 21h, na Casa da Mãe, no Rio Vermelho (Rua Guedes Cabral, 81, em frente à Praia de Santana). Em Salvador ele faz um show onde mescla músicas dos álbuns “Cura”, “Trilogia do Amor” e do novo “Liberdade”, em que, além de tocar o piano, interpreta canções de sua autoria e outras feitas com parceiros, gravadas na companhia das vozes femininas de Luedji Luna, Tássia Reis e Kaê Guajajara, e mostra releituras em spiritual jazz de Charles Brown como “Céu Azul” e “Azul”, de Djavan.
Quem é Jonathan Ferr - A música de Jonathan Ferr flerta com o Hip Hop, Rock, R&B, Eletrônico e outras sonoridades urbanas. Suas produções são baseadas na filosofia do afrofuturismo, que se expressa em percepções e projeções dos negros no mundo futurista, colocando-se sempre em protagonismo. Uma de suas batalhas é para popularizar o jazz na periferia do Rio de Janeiro.
Ele começou a se interessar pelo piano ainda criança, assistindo ao programa “Pianíssimo”, de Pedrinho Mattar, na Rede Vida, com seus pais. Aos oito anos, ganhou um tecladinho e começou a dedilhar as primeiras notas, inspirado em Tom Jobim. Na adolescência, se apaixonou pelo álbum “A Love Supreme”, de John Coltrane, e decidiu que seria músico de jazz. A profissionalização viria alguns anos depois, ao ganhar uma bolsa e se formar na Escola de Música Villa-Lobos, no Rio.
Ferr coleciona elogios de público e crítica e nos mostra porque é um dos artistas mais celebrados do momento. Com seu inovador urban jazz ele vem quebrando as percepções de público e crítica de um jazz elitista e pouco acessível. Suas produções são baseadas na filosofia do afro-futurismo, inspirado no americano Sun Ra, compositor de jazz e filósofo pioneiro dessas ideias, em que o movimento usa elementos da ficção científica para se expressar em percepções e projeções dos negros no mundo futurista, colocando-se sempre em protagonismo.
Em 2019 lançou o álbum “Trilogia do Amor” e o filme “A Jornada”, que circulou em vários festivais de cinema, com inúmeros elogios de público e crítica. Foi indicado a alguns prêmios, dentre eles melhor trilha sonora, sendo vencedor de melhor figurino.
No fim de 2020 assinou contrato com a Som Livre e já no início do ano lançou a belíssima obra “Saturno”, onde, além de assinar a música, também escreveu o filme onde assina roteiro e direção, com elenco e equipe formada por profissionais negrxs. Já em 2021 lançou o curta “Esperança”, um manifesto protagonizado por Serjão Loroza, que Ferr escreveu e dirigiu. Seus curtas são sempre acompanhados com belíssimas músicas compostas e produzidas por ele.
Em maio saiu pela Som Livre seu segundo álbum, “Cura”, junto uma web série em 8 episódios homônimos, que entrou em várias listas de melhores álbuns de 2021. O show desse álbum é uma performance de piano solo, onde Ferr apresenta o conceito de “música-medicina” - melodias que, segundo ele, acalmam e curam a alma, num mergulho profundo no desconhecido, com canções que buscam curar através desta experiência única. Jonathan lembra que “Cura” surgiu durante a pandemia e veio de uma provocação: “Quando você tem uma cicatriz, ela está ali para dizer que você se feriu ou que se curou? Falamos da cura física, mas e a cura mental e psicológica? O que nos cura?”, divaga.
Com esse jeitão profético e uma excelência no piano, que levanta toda a plateia, ele é um sopro de renovação no jazz no Brasil, país onde o gênero sempre foi visto como elitista — ao contrário dos Estados Unidos, em que suas raízes remontam à música negra de Nova Orleans no início do século XX.