Anderson Leonardo dos Santos, o Algodão, poderia ser apenas MAIS UM no grupo dos cerca de 14 milhões de jovens brasileiros, na faixa etária entre 15 a 29 anos, que vivem com renda familiar per capita de até meio salário mínimo e sem condições dignas de sobrevivência. Poderia ter que escolher entre trabalhar (se conseguisse o emprego!) ou estudar (se conseguisse uma vaga na escola pública!). Ambicioso e determinado, optou pelos dois, ou melhor, pelos CINCO: trabalhar, estudar, nadar, pedalar e correr. Sua escolha mudou sua história e ele, o Algodão, transformou-se em Vice Campeão Brasileiro de Triathlon na categoria 16/17 anos em 2009. É a confirmação de uma antiga campanha publicitária de uma marca esportiva que estampava: impossible is nothing!
Carla Ferner - Como começou sua história no triathlon?
Algodão - Descobri que tinham duas vagas para entrar no projeto de Beto (Projeto Ação TRI-projeto esportivo que tem como objetivo fazer a inclusão social de jovens de baixo poder aquisitivo através do esporte) fui tentar e consegui começar a treinar.
Carla Ferner - Como você aprendeu a nadar e andar de bicicleta?
Algodão - Nadar sempre foi a nossa brincadeira na Gamboa. Lá não tem campinho de futebol, tem mar e a brincadeira é nadar. E a bicicleta, nem sei, Beto me deu uma mountain bike e eu saí pedalando (risos).
Carla Ferner - E quando você percebeu que queria ser atleta profissional?
Algodão - Na terceira etapa da Copa Brasil de Triathlon quando eu competi ao lado de grandes atletas e ainda consegui ser o campeão na minha categoria. Fiquei muito feliz.
Carla Ferner - Seus pais te apoiaram na decisão?
Algodão - Minha mãe sempre vai ver as minhas provas. Mas se não fosse Beto, eu não teria feito nada.
Carla Ferner - Quem é Beto que você tanto fala?
Algodão- Beto é como um pai para mim (Alberto Lopes, triatleta que entre muitos títulos representou o Brasil em 2008 no Hawai na maior prova de triathlon do mundo – O Ultraman). Ele que sempre me deu tudo para eu chegar até aqui: comida, moradia, roupa, equipamento, dinheirinho para passear, broncas, conversava comigo quando eu estava nervoso. Quando ele não tem, ele pede aos amigos e os amigos vão ajudando. A mim e a todos os 50 meninos do projeto. Todo mundo dá um pouco.
Carla Ferner - E como é a sua rotina?
Algodão - Começo a treinar entre 4 e 5 horas da manhã, termino o treino às 08:00 e até 40 dias atrás ia trabalhar, mas agora que passei para Casa de Alto Rendimento e tenho que treinar 6 a 8 horas por dia, Beto preferiu que eu continuasse os estudos e saísse do trabalho para eu não me cansar demais. Se eu não apresento nota boa, ele fica me prometendo que eu vou parar de treinar e eu não quero. Então vou para casa, estudo os deveres do dia e meio dia saio para natação, volto almoço e vou para terceira etapa do treino. A noite eu vou para escola, chego 10:30 e vou logo dormir para começar o dia seguinte.
Carla Ferner - Qual o seu maior orgulho hoje?
Algodão - Quando eu chego na Gamboa e os meninos pequenos ficam me perguntando como é o treino de alto rendimento, como é a casa... Todo mundo de lá respeita a gente que treina.
Carla Ferner - Qual o seu objetivo no esporte?
Algodão - No esporte vou usar todas as minhas forças para poder representar o Brasil nas Olimpíadas e ai, vou me formar em Educação física e ensinar aos meninos da Gamboa que o esporte é a melhor coisa do mundo. O esporte não deixa a gente pensar nem se meter com bobagens.
Carla Ferner - O que é que está faltando para você conseguir isso?
Algodão - Duas coisas: Um patrocinador oficial para eu poder comprar equipamentos melhores, viajar para disputar títulos nacionais e conseguir um bom lugar no ranking. Beto me dá o que ele pode, mas ele tem mais 50 que também podem querer ser profissionais como eu. A outra coisa que me falta é TREINO, TREINO, TREINO... essa parte pode deixar comigo, que eu não vou perder essa oportunidade, NUNCA.