Uma referência internacional!

Tati Moreno

Uma referência internacional!

Filho de uma poetisa, irmão de uma pianista e de um baterista, Tati Moreno o menino que brincava com sucatas e bonecos de arame, acabou na Escola de Belas Artes como aluno de Mário Cravo Junior. Um artista imortal com várias mostras internacionais e uma ampla série de trabalhos no Brasil, a maioria em espaços públicos. Dique do Tororó , um sonho realizado, hoje o cartão postal da Bahia, um trabalho fascinante que durou três anos de pesquisa com o apóio de Mãe Creuza. Um nato baiano que respeita o sincretismo religioso definindo as figuras do Candomblé com sua belíssima arte. Sua ligação com a religião afro descendente não é apenas profissional, pois o colar de contas verdes que carrega no pescoço, lavado por Mãe Carmem, denuncia sua fé e a necessidade de proteção de seu orixá Ossanha. Octávio de Castro Moreno Filho, seu nome de batismo, é pai de três filhos, com inclinação pelas artes, sobretudo Gustavo Moreno, o nosso jornalista convidado para uma entrevista entre pai e filho. “As mãos de Tatti Moreno arrancam do fundo do mistério o clarão dos encantados, nossa verdade fundamental”, palavras do saudoso Jorge Armado, seu amigo de fé.

 

Gustavo Moreno: O que te despertou para as artes visuais?

Tati Moreno: Através de uma vocação familiar a princípio, o convívio com pessoas ligadas à arte como minha irmã Phil Moreno, pianista, minha prima Jacira Oswald e seu marido Henrique Oswald, ele, professor de gravura da Escola de Belas Artes, e a grande incentivadora, minha mãe, que tinha vocação artística e não podendo exercitá-la, incentivou os filhos que herdaram seu dom.

Gustavo Moreno: O que é a arte para você?

Tati Moreno: É o estado da criação sublime, onde o homem tem contato com Deus.

Gustavo Moreno: Por que o mundo necessita da arte?

Tati Moreno: Porque a arte é cultura e faz parte de um processo educativo.

Gustavo Moreno: Como você vê a transformação do mundo através da arte?

Tati Moreno: Basta sentir a transformação dos adolescentes sem perspectiva nas favelas brasileiras, que criam novos horizontes nas pequenas escolas de música, artes visuais, etc.

Gustavo Moreno: Algum período te fascina?

Tati Moreno: Sim, a arte contemporânea.

Gustavo Moreno: Que artista na história da arte te surpreendeu? É escultor? Se é que ele existe?

Tati Moreno: Ao longo do meu aprendizado estes artistas foram surgindo à medida que eu ia pesquisando. Tive momentos de grande encantamento como quando vi Renoir, Van Gogh, Munch, Diego Rivera, Picasso, Henri Moore, Mário Cravo, etc.

Gustavo Moreno: O que é a escultura?

Tati Moreno: Uma obra de arte definida em 3 dimensões.

Gustavo Moreno: Qual a importância dos Orixás em sua arte?

Tati Moreno: Há 30 anos que faço esta pesquisa. Já trabalhei com as imagens em diversos materiais como madeira, aço, cobre, sucata. Além dos Orixás estarem presentes na minha marca como artista é muito grande a força deles em minha vida.

Gustavo Moreno: Em algum momento pensou em trabalhar com outras linguagens?

Tati Moreno: Sim quando jovem pensei em ser bailarino, adoro violino, e recentemente pensei em fazer cenografia e me dedicar à pintura.

Gustavo Moreno: Qual o material que você se apropria? Tem novas descobertas?

Tati Moreno: Continuo trabalhando com o latão e resina, mas começo a intensificar meu trabalho com a fundição e materiais reciclados.

Gustavo Moreno: .Qual você considera sua maior obra?

Tati Moreno: A do Dique do Tororó.

Gustavo Moreno: Como foi a realização desta obra?

Tati Moreno: Foram três anos de trabalho, com uma equipe de 14 pessoas entre modeladores, carpinteiros etc.

Gustavo Moreno: O que está desenvolvendo hoje?

Tati Moreno: A criação de 12 totens fundidos em bronze com 2 m aproximadamente retratando imagens da cultura popular brasileira, com apoio da iniciativa privada, para uma exposição itinerante em quatro capitais brasileiras e réplicas menores para comercialização. Em 2011, pretendo lançar um livro registrando 40 anos de escultura.

Gustavo Moreno: O que te move? De onde extrai suas convicções?

Tati Moreno: O desafio da sobrevivência e o ato de criar para deixar um registro para as novas gerações.

Gustavo Moreno: Tem sonhos? Quer nos contar?

Tati Moreno: Ter tempo para viajar mais e mais com o objetivo de conhecer novas culturas.

Gustavo Moreno: Você se sente realizado? Tem a sensação do dever cumprido?

Tati Moreno: Pessoalmente sim, profissionalmente ainda tenho caminhos a percorrer.

Gustavo Moreno: E seus filhos? Seguiram o mesmo caminho? O que você deseja para eles?

Tati Moreno: Infelizmente sim, as dificuldades para sobreviver da arte são imensas. O caminho é árduo e não gostaria que passassem por este sofrimento.

Gustavo Moreno: Segundo Nietzsche, nós precisamos da arte para não morrer de verdade. Você concorda?

Tati Moreno: Sim, através do poder da arte de divinizar a vida.

 

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