Tempo de transformar o presente em um futuro mais apropriado, tempo de fazer dessa vida o melhor espetáculo possível. E na arte de fazer e acontecer, o publicitário Pedro Valente tem know- how de sobra. E por isso e muito mais, ele é o entrevistado de hoje. Confira.
Michelle Marie - A publicidade é um fenômeno que vem se disseminando apesar de enfrentar crises e de passar por momentos difíceis, como cliente com pouca verba e mercados saturados. Qual a sua compreensão sobre esse desenvolvimento?
Pedro Valente - Pois é justamente em momentos de crise ou estagnação que a publicidade mostra toda a sua força. Não existe outro artifício tão poderoso para alavancar vendas que a propaganda. Portanto, acho que, por pior que seja o momento de uma economia, as empresas sempre irão contar com a publicidade como uma boia de salvação. Acredito que o modelo em si da propaganda pode até se transformar, ela está sempre ganhando novas ferramentas; foi assim com a internet, agora com as redes sociais e mídias alternativas em formatos indoor (shopping centers, supermercados, banheiros de bares, etc) . Mas, não vejo, nem a médio, nem a longo prazo, o fim de mídias convencionais como a televisão, o rádio, o jornal, a revista. Essas previsões apocalípticas não irão se concretizar. A meu ver, a propaganda estará sempre se reinventando, porém, a cada dia, ganhando mais e mais terreno.
Michelle Marie - Sabemos que Salvador apesar de ser um mercado em crescente desenvolvimento ainda tem uma condição sine qua non em relação aos investimentos em publicidade e propaganda. A coisa começou a apertar na empresa e geralmente, o primeiro passo é cortar essa verba direcionada para comunicação? O porquê desse blefe tão em voga?
Pedro Valente - Nesta última grande crise, os investimentos em publicidade não foram reduzidos de maneira alarmante como muitos previam. Porém, as agências que têm em suas carteiras uma significativa parcela de clientes imobiliários, sim, sentiram o baque. Mas não por causa de uma redução nos investimentos em si, mas pelo simples fato de muitos lançamentos terem sido cancelados ou adiados. Como você disse, esta costumava ser uma atitude empresarial típica de nosso mercado: o primeiro lugar onde a guilhotina passava quando as coisas iam mal era a publicidade. Mas, como você disse também, o nosso mercado está em constante crescimento e, com ele, houve uma evolução técnica que não permite mais esta ótica primária com que eram encaradas as coisas. Ou investe-se em publicidade ou perde-se terreno. Pense bem: grandes redes de varejo como Insinuante e Casas Bahia investem milhões e milhões de reais por mês em propaganda. Não seria melhor economizar em publicidade e aumentar a margem de desconto em suas prateleiras? A resposta está na enxurrada de comerciais que vemos todos os dias em absolutamente todos os meios de comunicação existentes.
Michelle Marie - Como é feito seu processo de inspiração e de desenvolvimento de idéias? Alguma regra básica ou o improviso é a palavra chave?
Pedro Valente - Ao contrário do que muitos pensam, o processo criativo na publicidade não é refém da inspiração. Se fosse assim, imagine o quão maravilhoso ficaria um anúncio se ele fosse criado um dia depois do profissional ter brigado com sua namorada ou do seu time ter perdido a final do campeonato. Portanto, o processo criativo obedece um método. Um método que costuma respeitar uma proporção de 10% de inspiração e 90% de transpiração. No dia a dia cada vez mais dinâmico de uma agência, não há mais espaço para aquela visão romântica do profissional de criação meio aloprado que ficava o dia inteiro no ócio esperando uma ideia mirabolante surgir em sua cabeça. Para se chegar a um conceito forte, coerente, vendedor e criativo é necessário desenvolver muitas ideias. Partimos do princípio que é da quantidade que vem a qualidade.
Michelle Marie - Quem, na publicidade contemporânea, vem desenvolvendo um belo trabalho não deixando que a vaidade ou os caminhos mais tortuosos os desvie dos principais objetivos: que é fazer um trabalho honesto, bem feito e claro?
Pedro Valente - Duda Mendonça é o publicitário que mais admiro. Conquistou os maiores prêmios da publicidade mundial, o respeito de todo este mercado, criou tendências, elegeu o presidente mais emblemático da história da república e, tudo isso, com uma marca que lhe é muito peculiar: a emoção. Conseguiu criar comerciais que tocavam o coração de quem os assistia e nos fazia torcer para que passassem de novo na TV. Hoje, em tempos da publicidade cada vez mais efêmera, isso é raro, muito raro. Aqui em Salvador, destaco grandes nomes dos quais tive o privilégio de trabalhar: Chico Salles (Ideia 3), Edmond Midlej (Ideia 3), Maurício Carvalho (Ideia 3) Fabiano Ribeiro (Propeg), Ana Luisa Almeida (Propeg) e Lívia Diamantino (SLA). Posso puxar a brasa para a minha sardinha? Danilo Brito da Boanova, meu sócio.
Michelle Marie - Qual o seu trabalho mais marcante?
Pedro Valente - Acredito que tenha sido uma campanha que criei para o Governo da Bahia e que ganhou o Grand Prix do Prêmio Abril de publicidade de 2005. As peças vendiam a Bahia como principal destino turístico para nós, os baianos.
Michelle Marie - A Bahia, segundo Nizan Guanaes , que conduziu o Brasil a independência. E a prosperidade de um povo abençoado que não foge da luta, quem a de fazer?
Pedro Valente - Olha, essa sua pergunta belisca a seara política. E, como vem campanha por aí e eu não pretendo fechar portas, prefiro não responder! Rs. Mas, torço para que encontremos o caminho da prosperidade o mais rápido possível. Já passou da hora.
Michelle Marie - Qual o seu pensamento básico e primário em relação a capacidade que cada pessoa tem de criar sua história e se transformar no principal protagonista de sua vida?
Pedro Valente - Não acredito em destino, mas em oportunidades. Só através das oportunidades, que são criadas ou que criamos, e como as aproveitamos é que podemos escrever a nossa história.
Michelle Marie - Vem por aí uma nova leva de graduandos em publicidade, marketing e relações públicas. E , de fato, o mercado é restrito e competitivo. Como se aperfeiçoar para fazer a diferença e ocupar uma posição de destaque?
Pedro Valente - A publicidade tem se tornado mais técnica, baseada em dados de pesquisa e menos em feeling. Quem acompanhar esta tendência, acredito, tende a se dar bem.
Michelle Marie - Qual o conselho mais sábio que ouviu quando decidiu enveredar por esse caminho e que deixaria como recado?
Pedro Valente - O conselho mais válido que recebi até hoje é relacionado à minha área de criação e que tenho como verdade absoluta. Sabe quando você se apaixona pela primeira vez na vida? Você acha que aquela é a pessoa que você vai amar para sempre, não tem olhos para mais ninguém. Aí, o tempo passa, você conhece outra pessoa e logo percebe que, agora sim, é amor de verdade. E, normalmente, é uma crescente, fazendo até você rir quando lembra um dia ter considerado aquele primeiro o grande amor da sua vida. Com criação é a mesma coisa: nunca se apaixone pela sua primeira ideia. No processo criativo, algumas vezes, você tem uma ideia bacana logo no primeiro raciocínio. Não se apegue a ela, muitas outras virão e, 99% das vezes, os melhores conceitos aparecem no final do seu brainstorm, quando você acha não ser mais possível pensar em algo interessante. O que, espero eu, não quer dizer que você vá encontrar o verdadeiro amor de sua vida aos 80.