Graduado em Economia pela USP e pós graduado em Administração e Finanças Internacionais pela E.S.S.E.C. (École Supérieure des Sciences Economiques et Commerciales) de Paris, Ricardo Amorim é um economista e apresentador de televisão brasileiro. O apresentador chegou a morar e trabalhar nos Estados Unidos durante um periodo. Hoje em dia mora em São Paulo, onde atua no mercado financeiro como estrategista de investimentos desde 1992. Para esclarecer um pouco dos impactos que o crescimento da economia chinesa estão provocando na economia mundial, o economista bateu um papo com o site Michelle Marie. Confira a entrevista!
Michelle Marie - A China continua crescendo mesmo com a crise financeira mundial?
R.A - Entre o início de 2.007 e o início de 2.009, o crescimento do PIB chinês se desacelerou de mais de 12% ao ano para pouco mais de 6% ao ano. No entanto, devido a enormes pacotes de estímulos monetário e fiscal, o crescimento da economia chinesa voltou a acelerar-se no 2o trimestre deste ano para quase 8% e deve continuar a se acelerar na segunda metade deste ano e início de 2.010. Em resumo, a China sentiu, inicialmente, os impactos da crise financeira mundial, mas à medida em que a demanda externa foi substituída pela demanda dos próprios chineses, deixou a crise para trás e trouxe com ela alguns países emergentes, incluindo o Brasil.
M.M - Qual o impacto da desaceleração nos Estados Unidos com relação ao crescimento na China?
R.A - Inicialmente, foi importante, mas, pouco a pouco, a queda do consumo por parte dos americanos foi sendo aos poucos compensada pelo aumento de consumo dos próprios chineses. Este deve ser um dos legados da crise; o consumidor americano - que está endividado, sem emprego e sem crédito - perderá importância na economia mundial e o consumidor chinês - com desejos de consumo represados há décadas e agora com dinheiro no bolso - será cada vez mais importante. Isto fará com que o maior crescimento de consumo nos próximos anos no mundo aconteça em produtos de consumo de massa e básicos, como alimentos, metais, minerais e petróleo e não em produtos sofisticados voltados para consumidores americanos e europeus. Este processo beneficiará muito o Brasil, que é muito competitivo na produção destes produtos mais simples.
M.M - Existem alguns economistas afirmando que essa crise é muito mais dos países ricos do que dos emergentes. Os países emergentes terão condições de crescer, mesmo com a crise financeira mundial?
R.A - Enquanto a China conseguir sustentar seu crescimento com sua demanda interna - apesar das dificuldades vividas nos EUA, Europa e Japão - países emergentes exportadores das commodities que a China necessita como o Brasil, continuarão a crescer fortemente.
M.M - É possível afirmar que essa é a pior crise desde a Grande Depressão de 1929?
R.A - A queda do PIB americano nesta crise não só foi a maior desde a Grande Depressão, mas, com exceção da Grande Depressão, a pior desde 1.870. O mesmo é verdade para a maior parte da Europa e para o Japão. Por outro lado, nos principais países emergentes, incluindo o Brasil, a crise esteve longe de estar entre as mais graves. Isto foi reflexo de uma gradativa mudança do centro de gravidade da economia mundial dos países ricos para os países emergentes a partir da entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2.001. Hoje, por incrível que pareça, vários países emergentes, incluindo o Brasil tem economias mais sólidas que a dos países ricos.