O ter ou o ser?

Professor José Saja

O ter ou o ser?

Depois de um bate papo com Michelle Marie no Conexão Transamérica essa entrevista se tornou algo irresistível, primeiro pela pessoa e segundo pela temática. Graduado em Filosofia pela Universidade Federal da Bahia (1977), mestre em Artes Visuais pela UFBA (1995) e doutor em Letras e Lingüística também pela UFBA (1999), ele fala um pouco dessa crise mundial e nos faz refletir. Atualmente, é Professor da UFBA e Membro de Conselho Editorial da Universidade Salvador. Além de tudo isso ministra palestras e atua como assessor especial no Instituto do Meio Ambiente (IMA). Depois de ler essa entrevista até o improvável poderá acontecer. Pense nisso!

 

M.M - Você costuma falar muito dessa crise de pensamento. Por favor explique um pouco para a gente.

J.S - Tem uma frase de Gramsci que diz que nós estamos vivendo em uma época onde uma velha ordem está passando, mas ainda não conseguiu passar de vez e uma nova ordem está chegando e também não conseguiu nascer de vez. Então, nós estamos nessa encruzilhada, numa época de mudança e numa mudança de época, isso faz com que seja um momento decisivo na história da humanidade.

M.M - Como você enxerga essa crise mundial?

J.S - É uma crise e não é uma crise conjuntural, é uma crise estrutural, ela se localiza também no setor econômico, é uma crise ética, emocional e social. Essa junção de crises faz com que ela não seja setorial. Portanto, qualquer alternativa para tentar resolver essa crise que não seja de forma estrutural vai contribuir para promoção mais crises ainda.

M.M - Você acredita numa mudança com relação à saúde do meio ambiente?

J.S - O mais provável é que a mudança climática aconteça e que nossa história se dê pelo improvável e eu acredito que o improvável acontecerá.

M.M - O que é o improvável?

J.S - O mais improvável é a gente dá certo, o mais improvável é a gente acreditar que existe uma saída e que essa saída nos dá uma dignidade maior.

M.M - O senhor costuma falar da inversão de valores, onde se prevalece o ter e não o ser. Como o senhor classifica a realidade da sociedade?

J.S - O problema é que estamos numa sociedade do espetáculo, onde o supérfluo toma o lugar do necessário. A gente dá importância para o que não tem importância justamente para não dá importância ao que de fato tem importância.

Veja também

Michelle Marie